sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sociedade “obesogénica”


"Aprisonado em cada obeso há um homem magro
que luta com energia para aparecer."
Cyril Connolly

Vivemos numa sociedade perversa manifestamente “obesogénica”, onde somos constantemente estimulados a consumir produtos alimentares de elevado valor energético (cheios de calorias vazias), com deficiente valor nutricional (pobres em vários nutrientes como as fibras, vitaminas e minerais), e ao mesmo tempo saborosos, com preço acessível e fáceis de preparar.
 
Estes produtos são amplamente publicitados, sendo associados a mensagens de prazer, felicidade, sucesso, beleza e bem-estar.
 



 
 
Paralelamente, parece haver uma “congeminação colectiva” para que cada vez nos mexamos menos. Quanto mais trabalhamos (a maioria de nós sentados ou em pé quase parados) e quanto mais stress profissional temos, mais sedentários (e gordos!) nos tornamos.
 
As novas tecnologias proporcionaram-nos a possibilidade de fazermos mais em menos tempo, quase bastando apenas um simples movimento no teclado.

É vital o envolvimento de toda a sociedade (incluindo os órgãos governamentais e os meios de comunicação, famílias, escolas, serviços de saúde e indústrias alimentares) no combate à epidemia do século XXI, a qual nos tolda os movimentos e nos retira qualidade de vida (e mesmo anos de vida) começando por mudar este ambiente nefasto que propicia o desenvolvimento da obesidade.

Tal como acontece com os maços de cigarros, também estes produtos alimentares excessivamente calóricos e de baixo valor nutricional, deveriam conter mensagens alertando os consumidores para os riscos inerentes ao seu consumo habitual, como o aparecimento da obesidade, as doenças cardiovasculares, a diabetes tipo 2, dislipidémia (excesso de colesterol e/ou de triglicéridos), esteatose hepática (fígado gordo) e várias outras doenças.
 
A par desta informação deveriam conter rótulos com informação nutricional completa e numa linguagem explícita para a nossa população, abrangendo os alimentos que se vendem a granel (como algum pão, enchidos, queijos...) e as ementas dos restaurantes, cafés...
 
Deveriam ser criados incentivos para promover a criação de produtos alimentares com baixa densidade energética e com adequado valor nutricional, apelativos, rápidos de preparar e com preços acessíveis.

Há que criar mais espaços verdes, zonas pedonais e ciclovias seguras. Promover a actividade física nas escolas, nas empresas e na comunidade em geral.

A Organização Mundial de Saúde preconiza que a prevenção e o tratamento da obesidade sejam uma das prioridades máximas dos países desenvolvidos. Para que tal aconteça é necessário uma intervenção dietética/nutricional precoce que permita mudar hábitos alimentares e de exercício físico, promovendo estilos de vida mais saudáveis.
 
A reeducação alimentar é essencial, bem como a instituição de um plano alimentar personalizado que contemple as necessidades nutricionais, as preferências alimentares, os antecedentes pessoais e familiares (doenças, intolerâncias), hábitos de exercício físico, o estado emocional, o meio envolvente (apoio familiar, orçamento alimentar, crenças religiosas,…) e vários outros aspectos, de modo a que toda a orientação dietética/nutricional seja específica para a pessoa em causa, de forma a que os objectivos pretendidos sejam atingidos e duradouros.
 
No decorrer do acompanhamento dietético/nutricional a pessoa vai adquirindo autonomia de forma a fazer escolhas alimentares adequadas aos objectivos pretendidos.

A Dietética era designada pelos gregos como sendo “a arte de bem viver”, correspondendo a noção de “diaita” (dieta) a um estilo de vida saudável, o qual deveria assegurar a manutenção da saúde física e psicológica. Há que recuperar um estilo de vida favorável a uma vida saudável que “cure” esta sociedade “obesogénica”.

(Publicado in Jornal Independente - Junho de 2005).

“Que a comida seja o teu alimento e que o alimento seja o teu remédio”
Hipócrates


Boas leituras e uma ótima semana para si e para os seus!

Cumprimentos vitaminados, Eduarda Alves.

Dietista – Membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas
 
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